Estatal diz, porém, que 'na situação atual', não há risco de impacto no suprimento
A estatal boliviana YPFB comunicou à Petrobras o risco de "eventual variação" no fornecimento de
gás natural, em meio à
crise política e protestos nas ruas. O mercado, porém, não vê risco de interrupção no suprimento por enquanto.
A
renúncia do governo Evo Morales e a necessidade de novas eleições devem atrasar as negociações para a compra de gás natural por empresas privadas a partir de 2020, um dos primeiros passos do "choque de energia barata" prometido pelo
governo Bolsonaro.
Na segunda (11), manifestantes pró-Morales invadiram o campo de gás de Carrasco, em Cochabamba, base eleitoral do ex-presidente. O ataque levou a YPFB a declarar força maior em contrato de venda do combustível à Argentina, por razões de "convulsão social".
A cláusula de força maior evita multas por corte no suprimento quando as razões fogem ao controle do vendedor. Segundo fontes, houve corte em torno de 1,5 a 2 milhão de metros cúbicos por dia na exportação à Argentina.
No mesmo dia, a Petrobras foi informada do risco de variações na entrega. A Folha apurou, porém, que não houve declaração de força maior no contrato. "Na situação atual, não há impacto no suprimento de gás natural da Bolívia para a Petrobras", disse a estatal, em nota.
A Bolívia representa atualmente cerca de um quinto da demanda brasileira de gás -- segundo o último boletim divulgado pelo MME (Ministério de Minas e Energia), até agosto as importações foram, em média, de 15,33 milhões de metros cúbicos por dia.
A dependência já foi maior: parte do consumo hoje é suprido por gás importado por navios, por meio de três terminais de regaseificação instalados no Rio, na Bahia e no Ceará. Até agosto, esse modelo contribuiu, em média, com 9,2 milhões de metros cúbicos por dia.
Com capacidade para transportar 30 milhões de metros cúbicos por dia, o
Gasoduto Bolívia Brasil funciona também como um grande estoque de gás. Segundo especialistas, o combustível armazenado em toda a sua extensão garantiria ate três dias de consumo em caso de interrupção total do suprimento.
Além disso, dois navios ancorados em terminais de GNL garantiriam outros três dias, diz uma fonte. Governo e setor confiam que o risco de quebra de confiança em caso de corte no suprimento é suficiente para garantir que o exército boliviano proteja os campos e instalações de gás.
Principal exportador de gás para o Brasil, a Bolívia vinha negociando com grandes clientes e distribuidoras de gás canalizado a venda do combustível a partir de 2020, após o encerramento do principal contrato de importação da Petrobras.
Os volumes vinham sendo negociados por distribuidoras de gás canalizado e grandes consumidores de energia. Com a renúncia de Morales e a crise social no país, a expectativa é que o cronograma de negociações só seja retomado após a posse do novo governo —
Morales deixou o país na segunda (11), rumo ao México.
"Agora temos que esperar", disse o presidente da Abrace (Associação Brasileira de Grandes Consumidores de Energia), Paulo Pedrosa. "Qualquer negociação só poderá ser retomada quando se estabelecer quem é quem [no governo boliviano]."
"Agora, são mais três meses para a eleição, mais três a seis meses para tomarem pé, para só depois começarem a falar em vender gás", afirmou o presidente da Abividro (Associação Brasileira da Indústria do Vidro), Lucien Belmonte.
A expectativa, porém, é que independente de quem vença as eleições, o processo seja retomado em 2020, já que o Brasil é o principal destino das exportações bolivianas e o gás natural foi o motor do crescimento acelerado que o pais experimentou na última década.
Fonte: Folha Online - 12/11/2019